Quando um bebê gorila chorou
Quando um bebê gorila chorou
DO REDATOR DE DESPERTAI! EM CAMARÕES
Pitchou, um gorila fêmea, nasceu na floresta centro-africana. Quando ela tinha cerca de 1 ano, caçadores mataram sua mãe e todos os outros gorilas de seu grupo para o consumo humano. Pitchou era pequena demais para ser vendida para fins alimentícios. Por isso, foi poupada e comercializada como animal de estimação. Nesse meio- tempo, ela ficou doente e chorava constantemente.
PITCHOU é apenas um dos muitos milhares de primatas órfãos. Uma combinação de diversos fatores contribui para essa triste situação. Um deles é o comércio ilegal de carne selvagem. Aproveitando-se do fato de que alguns restaurantes e algumas pessoas procuram carnes exóticas, caçadores profissionais vasculham florestas dia e noite. Enquanto isso, intermediários operam as lucrativas, mas ilegais, redes locais e internacionais de comércio de animais e carnes.
Um segundo fator envolve atividades insustentáveis de extração de madeira. Quando florestas são destruídas, os animais perdem seu lar, seus esconderijos e os locais onde se alimentam e fazem ninhos. Além disso, esses dois fatores costumam andar de mãos dadas. Como assim? Uma das razões é que as estradas abertas para extração de madeira facilitam o acesso dos caçadores a habitats florestais, onde os animais, agora confusos e geralmente sem lar, se tornam presas fáceis. Outros fatores incluem crescimento da população humana, demanda de alimentos ricos em proteína, crescente urbanização e tecnologias de caça mais eficientes, além das guerras e, conseqüentemente, a grande disponibilidade de armas de fogo. Em resultado disso, primatas e muitos outros animais estão cada vez mais perto da extinção, levando ao que é chamado de “síndrome da floresta vazia”. Mas esse talvez não seja o único problema. Por que não? Por ajudarem a espalhar sementes, por exemplo, os animais contribuem para o equilíbrio e para a diversidade dos ecossistemas das florestas. Sendo assim, quando a fauna (vida animal) desaparece, a flora (vida vegetal) também é afetada.
Apesar disso, a matança continua. Num período de apenas dez anos, algumas populações de primatas diminuíram 90% em certas regiões da África Ocidental. “Se a caça clandestina continuar”, dizem especialistas em vida selvagem, de Camarões, “logo os gorilas só vão existir em cativeiro”. *
Salvação de animais órfãos
Para lidar com essa situação trágica, grupos de preservação trabalham a fim de proteger espécies ameaçadas de extinção. Um deles é o Centro para a Vida Selvagem de Limbe, localizado no sopé do monte Camarões, na África Ocidental subsaariana. Nesse centro, os visitantes podem observar gorilas, chimpanzés, mandris e outras 13 espécies de primatas, além de diversos outros animais. Em anos recentes, o centro cuidou de aproximadamente 200 animais órfãos e sem lar, dando-lhes um lar seguro, comida e cuidados veterinários. Outra função do centro é conscientizar os muitos visitantes, que
vêm de Camarões, de países vizinhos e de todo o mundo — mais de 28.300 pessoas num ano recente —, da importância de preservar a natureza.Por falar nisso, veja o que aconteceu com o bebê gorila. Comovidas com o choro de Pitchou, pessoas preocupadas a compraram dos caçadores e a deram ao Centro para a Vida Selvagem de Limbe. Ao chegar lá, ela passou por um check-up completo na enfermaria. Além do trauma emocional, estava com tosse, desidratação, desnutrição, diarréia e lesões na pele. Por causa dos problemas na pele, ela foi chamada de Pitchou, que no dialeto local significa “manchada”. Felizmente, Pitchou reagiu bem ao tratamento e uma intervenção cirúrgica não foi necessária, o que o centro pode realizar se for preciso.
Como é de costume para os animais que chegam ao centro, Pitchou ficou os primeiros 90 dias de quarentena. Depois foi posta num cercado ao ar livre, que imita o ambiente natural da floresta, onde já havia 11 gorilas. Os membros da
equipe se emocionaram ao ver os primatas mais velhos acolher a recém-chegada. Isso não é incomum e, em resultado disso, Pitchou logo se tornou parte do grupo.Esse trabalho proporciona um contato achegado e amigável entre humanos e animais, criando um forte vínculo. Observar o que é feito no Centro para a Vida Selvagem de Limbe pode ajudar os visitantes a entender a responsabilidade moral que Deus impôs às pessoas quando instruiu o primeiro casal humano a sujeitar a Terra e os animais. — Gênesis 1:28.
O que o futuro reserva para os animais órfãos?
O principal objetivo do programa é devolver os animais à natureza. Mas isso não é uma tarefa fácil. Com freqüência, animais criados em cativeiro têm dificuldades para sobreviver sozinhos. Novamente, eles correm o risco de acabar no prato de alguém. Muitos países africanos concordaram em criar áreas protegidas que ultrapassam as fronteiras de seu território e em aprimorar a administração das áreas já existentes. Espera-se que essas medidas facilitem a soltura de animais órfãos e que contribuam para a preservação não apenas de primatas, mas também de toda a vida selvagem da região.
Enquanto isso, tudo indica que fatores como a ganância, a pobreza, o rápido crescimento da população humana e o desmatamento continuarão a prejudicar gravemente os primatas e outros animais. Se medidas para aumentar a proteção não forem tomadas logo, “é provável que o número de espécies selvagens diminua cada vez mais”, diz Felix Lankester, gerente de projetos do Centro para a Vida Selvagem de Limbe. “O resultado . . . pode ser que os próprios animais que estamos tentando ajudar deixem de existir no ambiente selvagem.”
Que tragédia! No entanto, uma tragédia ainda maior é ver crianças com a barriga inchada e olhos lacrimejantes morrerem de fome, e humanos desnutridos e doentes. Com certeza o problema de Pitchou destaca a situação deplorável do mundo como um todo — principalmente sua desigualdade e injustiça.
Felizmente, o Criador se importa com o que está acontecendo na Terra. Em breve, ele acabará com as causas da crueldade, do sofrimento e da extinção de espécies, e estabelecerá uma harmonia duradoura entre todas as criaturas vivas. — Isaías 11:6-9.
[Nota(s) de rodapé]
^ parágrafo 6 Especialistas em saúde avisam que manipular e ingerir carne selvagem também pode disseminar doenças fatais como o antraz e o ebola, bem como vírus semelhantes ao HIV transmitidos de animais para humanos.
[Fotos nas páginas 22, 23]
Pitchou antes e depois de recuperar a saúde
[Foto na página 23]
Macaco da espécie “Cercopithecus erythrotis”
[Foto na página 23]
Um dril cuidando de seu bebê
[Foto na página 24]
Entrada do Centro para a Vida Selvagem de Limbe
[Foto na página 24]
Bolo, um gorila órfão, recebe cuidados
[Crédito das fotos na página 23]
Todas as fotos das páginas 22 e 23: Limbe Wildlife Centre, Camarões
[Crédito das fotos na página 24]
Ambas as fotos: Limbe Wildlife Centre, Camarões